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Podcast – Dependência química com Psicanálise e Terapia Familiar

Dependência Química com Psicanálise e Terapia Familiar - Instituto Frontale

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Comandado pelos psicólogos Nicácio Mendonça (CRP 08/15806) e Raphael Mestres (CRP 08/23912), do Instituto Frontale, este podcast entra a fundo em temas relacionados à Dependência Química. 

Temperado com muitos conhecimentos de Psicanálise e Terapia Familiar, este podcast vai revolucionar o seu entendimento sobre os problemas com drogas.

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O Papel das emoções na Dependência química

Transcrição do podcast

Na sua percepção qual é o papel das emoções na dependência química? tanto no adoecimento quanto no tratamento.

A ideia é que antes de entrar nessa questão acho que a ideia de ter um momento e espaço com profissionais, para explorar estes bastidores no tratamento, isso é fundamental.

Porque realmente quando um profissional se propõe a trabalhar com dependência química, não só na dependência química mas em qualquer campo da psicologia ou da saúde mental.

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Muitas vezes é difícil para o profissional ter clareza de qual que é a meta, o objetivo, ou qual que é o caminho que ele vai ter que trilhar como profissional com o paciente. Às vezes não simplesmente parar de usar droga, mas isso é um detalhe praticamente pequeno dentro do processo.

Então a tua pergunta é muito rica nesse sentido, porque qual que é o papel das emoções no tratamento da dependência química, e agora que você fez essa pergunta eu tava lembrando que o naida lai ele preconiza os princípios do tratamento e um deles é um tratamento de dependência ele engloba todas as áreas da vida do sujeito e não só apenas  o que diz respeito a droga.

E eu acho que para começar a responder essa pergunta , uma analogia, uma imagem que eu tenho na minha mente, que me ajuda a pensar muito é a seguinte:

Imagina que você precisa carregar um objeto muito pesado. Se você tiver musculatura suficiente, se você for uma pessoa que em termos de musculatura desenvolvida, você tem um bom preparo físico, você vai conseguir carregar esse objeto por 30 metros, 50 metros. Sem uma fadiga excessiva.

Você pega uma bombona de 20 litros e você sobe um lance de escada, se você tiver um condicionamento físico muscular bom, beleza! você sobe mais um lance se precisar.

Se você não tem um condicionamento físico muscular bom, sua musculatura não é boa, você até consegue, mas vai conseguir assim exaurido.

E eu acho que esse é o modelo das emoções no tratamento da dependência, então isso não é só para dependência, isso é pra tudo na vida né? de uma forma geral quando a gente pensa em terapia é isso.

Aumenta a nossa musculatura emocional, mas na dependência no sentido individual é o eixo

Para uma pessoa poder lidar com essas emoções, ela vive emoções algumas mais pesadas e outras mais leves, o quanto que ela consegue carregar isso e lidar com isso ao longo da vida.

Então vamos pensar assim, raiva, tristeza, saudade, angústia, medo ou até as emoções boas como alegria, conquista, amor, felicidade. Então assim cada emoção tem o seu peso, e esse peso é determinado por uma série de variáveis, o quanto que eu aguento uma emoção? Se eu to com muita raiva de alguém ou de algo, o quanto que eu aguento essa raiva, tempo suficiente pra eu pensar sobre ela, e aí encontrar uma saída, encontrar uma forma de caminhar sobre aquela situação sem ficar refém daquele sentimento.

Então na dependência química é isso que acontece, é muito comum que uma pessoa chegue no tratamento ou numa terapia individual pra dependência ela fica com uma musculatura emocional muito atrofiada, ela nao aguenta as emoções que ela tá num mecanismo de funcionamento muito impulsivo, teve raiva bateu teve medo fugiu, eve saudade um desejo foi atrás de alguma coisa.

Dá pra relacionar essa falta de  musculatura emocional com o início do uso também? Com o início do processo do envolvimento da pessoa com droga?

A princípio sim, qual é o risco e o cuidado que a gente precisa ter. Pra que não fique reducionista, ah então tá começou a usar droga porque não tinha musculatura emocional! Olha não é só isso! A gente que trabalha com dependência sabe que o fenômeno da dependência é múltiplo. São múltiplas variáveis que estão interagindo dentro de uma certa combinação, daquele momento que faz que a pessoa avance para uma dependência.

Mas a gente poderia considerar que o elemento emocional é uma das variáveis que ta dentro do processo do desenvolvimento da dependência.

Eu não consigo lembrar de uma pessoa que eu tenha acompanhado, que estivesse em um quadro de dependência e estivesse com a musculatura emocional beleza.

Isso seria no sentido de a pessoa vive emoções que não dá conta e ela usa droga para anestesiar isso, tipo não consigo carregar essas emoções que eu vivi, a droga é uma forma de fugir como dizem na linguagem popular.

Então, me ocorrem duas coisas, um é o mecanismo que a gente pode considerar que é assim: todo impulso que a gente tem, nós somos um ser que temos uma grande parte da nossa biologia que faz com que a gente aja de uma maneira mais instintiva, então assim, essa é a nossa base, a gente pensa num bebe, ou seja a gente pensa nos nossos primórdios o funcionamento é predominantemente instintivo, e a gente precisa desenvolver uma condição de lidar com esses nossos instintos ou lidar com os nossos impulsos.

Então em síntese se eu tenho fome eu como, se eu tenho sono eu durmo, se eu tenho sede eu tomo água. Em via de regra é assim um bebe ele ta com desconforto ele chora, ele não vai pensar sobre aquele desconforto, o que é, o que está acontecendo comigo, não ele sentiu e ele agiu.

Impulso, ação!

Na medida em que a gente vai se desenvolvendo psiquicamente a ideia é que a gente vai desenvolvendo essa musculatura emocional que nos ajuda a ficar com aquela emoção um tempo, processar ela, digerir, metabolizar, entender melhor o que está acontecendo, olhar diversos ângulos e aí tomar uma decisão.

Então o impulso gera uma ação e aí no meio a gente tenta colocar essa condição de pensar, analisar.

Porque toda ação vai gerar uma ação!

Isso seria a musculatura emocional? esse intervalo entre a emoção e a ação.

Eu vou colocar aqui

Todo impulso gera uma ação! É aquilo que eu tava falando to com fome como, to com sono durmo, tô com sede tomo agua!

Toda ação ela vai gerar uma sensação, a sensação é algo sempre imediato, e toda ação vai gerar uma consequência.

A sensação pode ser boa ou ruim e a consequência pode ser boa ou ruim.

Tomar um remédio muitas vezes a sensação é ruim mas a consequência é boa.

Então esse é o nosso princípio de condicionamento básico, o que a gente tá falando é que a musculatura emocional vem como se fosse um intervalo que podemos chamar de capacidade de pensar, ou de musculatura emocional, que é algo que nos dá um tempo entre o impulso e a ação, que faz com que isso não seja imediato.

Mas que a gente tem um tempo interno pra ficar com aquilo que está acontecendo na situação. Então deu raiva minha vontade é bater na pessoa, ou deu medo a minha vontade é fugir. Não calma lá! Eu fico com aquela emoção um tempo, eu aguento um tempo entre o impulso e a ação que me ajuda a avaliar tanto as sensações daquela minha ação quanto as consequências, ai eu tomo a melhor decisão para aquilo.

Onde entraria a droga nesse esquema?

A droga faz com que esse intervalo não exista, ou ela vai dando para o sujeito uma sensação de que ele está conseguindo pensar melhor.

O Eduardo Calina, um psicanalista e psiquiatra argentino, fala da síndrome de Popeye.

Então o Popeye tá lá no situação problemática come o espinafre e ganha uma força mega, e resolve tudo! Mas aquilo é um tiro curto, como a droga.

O sujeito tá com um problema, ta com uma emoção, não sabe lidar com sua droga, tem a fantasia de que resolveu o problema e aí toma uma atitude, só que muitas vezes ou na maioria das vezes uma atitude com consequências negativas.

São coisas impensadas, ele tem a sensação de que ele ta resolvendo, mas na verdade ele ta aumentando mais ainda o problema.

Eu lembro agora também que o Calina fala da questão de consequência. A dependência química a ideia de consequência ela não existe. Então no fundo o que você tá falando é que esse desenvolver a musculatura emocional faria parte do processo de terapia do dependente.

E até um pouco a ver com essa forma, de desenvolver a capacidade de pensar, de refletir sobre as coisas que ele vai sentindo.

A gente pode colocar de uma forma talvez até mais simples ainda, sempre tomando cuidado pra não ficar reducionista ou simplista, mas a gente pode extrair uma essência disso.

A gente precisa se responsabilizar por si próprio, a gente tem uma dificuldade como ser humano se responsabilizar por si mesmo, pelas nossas decisões e pelas consequências de atos que a gente toma.

No dependente químico isso é nível máximo, ele não quer se responsabilizar pelas consequência do que ele faz na vida dele e ele quer terceirizar isso.

Então a musculatura emocional é isso! Ajudar ele a desenvolver uma condição de pensar e de sentir para que ele possa se dar conta de que tudo que ele faz na vida dele é de responsabilidade dele.

E se ele tomar essa consciência a tendência é que ele comece a lidar um pouco melhor.

Aí abre um tema que pode ficar pra uma outra conversa que é o processo da abstinência do dependente químico, porque daí ele vai sentir uma culpa enorme, quando ele começar a ficar em abstinência. Ele vai ver tudo que ele foi fazendo na vida dele, então veja que é uma virada cruel assim. 

Pra fechar a conversa, não sei se é pedir demais pra você mas você consegue lembrar de alguma situação com paciente que te exemplificou bem esse desenvolvimento dessa musculatura emocional, um evento com um paciente que marcou isso. Que ele conseguiu conquistar esse aspecto ao longo da terapia.

Tem vários assim! Tô tentando resgatar um assim pra colocar de uma maneira mais genérica.

Vamos pensar numa situação mais ou menos assim:

A pessoa está ali numa determinada situação e tem uma briga com um familiar, normalmente aquelas brigas que causam recaída de um dependente. Aí a briga virou álibi da recaída, da pessoa recair. Ah eu recai porque eu briguei com fulano. Na verdade você recaiu porque você estava querendo usar, não assume a tua vontade de usar e muitas vezes até cria uma briga ou a família cria essa briga.

Era uma pessoa que com muita frequência quando tinha esses conflitos familiares, era uma pessoa que com muita frequência usava drogas. Recorrentemente usava, ou mentia enfim tinha uma série de mecanismos.

Às vezes não usava, mas tinha atitudes, mentia, ou fazia coisas que gerava uma culpa e essa culpa gerava o uso posterior.

Às vezes não é de imediato, aconteceu e a pessoa usou droga! Aconteceu e uso bem depois.

E aí ao longo do tratamento essa pessoa primeiro, eu vou fazer em fases.

  1. aconteciam as brigas ai usava, ou tinha alguma coisa que levava ao uso. Depois começou a identificar isso.
  2. Então quando acontece isso eu tenho uma tendência a usar drogas, mas ainda continuava usando
  3. A terceira fase é que aconteciam as coisas, conseguia conversar um pouquinho antes de fazer.
  4. e aí uma outra fase que é o momento atual dessa pessoa, que as coisas acontecem, ela pensa, processa consegue ver outras dimensões, consegue olhar pra si e ver como aquilo impactou.

E aí hoje nesse contexto a droga nem aparece como um elemento de risco

Acho que deu pra ter ideia, no primeiro momento é uma construção, eu vou fazendo uma imagem de uma musculação mesmo. no começo você vai na academia e levanta um pouco de peso, depois vai aumentando, até chegar ao ponto ta carregando la os 60kg sem grande dificuldade.

Acho que isso que você falou é bem esse intervalo. A pessoa consegue, nem entra mais como um impulso mais, de tanto trabalhar o processo antes, que a droga nem chega a aparecer. Vão tem muitas outras alternativas de solução, de lidar com aquela situação